Neste artigo falo um pouco sobre o que é uma Transformação Ágil e seus três pilares principais, na esperança de jogar um pouco de luz sobre este tema.
Transformação Ágil, muitas vezes chamada de Jornada Ágil ou Virada Ágil é o processo pelo qual uma empresa sai de um estado A, onde seus processos são tradicionais, sua estrutura organizacional é rígida e sua cultura é conservadora para um estado B, onde seus processos são ágeis, sua estrutura é dinâmica e sua cultura é inovadora.
Desta forma, entende-se que uma Transformação Ágil não refere-se tão somente a inovação em processos de desenvolvimento de software e tão pouco somente à forma como a empresa gere os seus projetos. Enquanto que Scrum é um framework ágil muito utilizado para construção de produtos complexos e inovadores, agilidade em um contexto mais amplo como uma transformação organizacional é algo que vai além da construção de produtos e portanto transcende o Scrum ou qualquer outro framework/método ágil.
Não existe transformação, seja ágil ou qualquer outra, sem quebra de paradigmas e sem desafiar o status quo.
Assim sendo, uma Transformação Ágil, com toda a semântica que as palavras possuem, é uma mudança radical na forma como a empresa lida com processos, estrutura organizacional e cultura corporativa para um modelo ágil.
Processos
Processos ágeis são emergentes e em constante melhoria. Eles existem porque são necessários e podem até partir de modelos prontos, mas rapidamente são incorporados e evoluídos conforme o DNA da empresa, em especial o novo DNA que estará sendo construído durante a transformação.
Isso vale para todos os processos mas em especial para os de desenvolvimento de novos produtos e projetos, que geralmente evoluem de um modelo waterfall rígido para um modelo iterativo-incremental (como no Scrum) ou até mesmo de fluxo contínuo na entrega de valor (como no Kanban).
Ainda assim, mesmo esses modelos ágeis “prontos” não são o fim, mas o “meio” para uma agilidade real pautada nos princípios e valores pregados pelo Manifesto. O último estágio, o Ri do Shu-Ha-Ri.
Estrutura
Uma estrutura ágil é adaptativa e dinâmica. Hierarquias verticais são redesenhadas em estruturas matriciais com grande foco no casamento entre time + objetivo, muito similares aos modelos de sociocracia e holacracia. Termos populares como squads ou Times Scrum são comumente utilizados e designam times multifuncionais que atuam em fatias horizontais na organização, ao invés de verticais, impedindo a criação de silos entre departamentos, que muitas vezes deixam de existir.
Enquanto que ainda existem lideranças em estruturas ágeis, elas são mais situacionais do que fixas ou impostas, como descrito no Team of Teams do General Stanley McChrystal. É o único jeito eficiente que conhecemos para lidar com o mundo VUCA (do Inglês Volatile, Uncertain, Complex and Ambiguous).
A ausência de uma hierarquia rígida e clara é um grande risco à uma transformação ágil uma vez que desperta o instinto de sobrevivência corporativo e isso pode gerar boicotes. É necessário a presença de um sponsor forte ao lado dos agentes da transformação, geralmente os Agile Coaches mas também os Scrum Masters, seja para reforçar o compromisso da empresa para com a Transformação, seja para dar mais segurança aos profissionais que estejam em conflito com a mudança organizacional.
Cultura
E se a mudança organizacional assusta, imagine a mudança cultural.
Um design deliberado de cultura que funcione é o sonho de toda empresa que quer inovar para crescer e o pesadelo de todo conformista na sua zona de conforto com muitos anos de casa.
Infelizmente, você pode colocar todo mundo da sua empresa em squads rodando Scrum e ainda assim não ter uma Transformação Ágil completa. Isso porque agilidade é sobre pessoas, é sobre entrega de valor, é sobre colaboração e sobre responder a mudanças. Está lá no Manifesto Ágil, desde 2001.
Sendo assim, toda Transformação Ágil deve ter como foco em seus três pilares o pilar da Cultura Ágil. E este pilar é o mais difícil de ser implementado mas, ao mesmo tempo, o mais duradouro quando está realmente em pé.
É importante eu ressaltar aqui alguns trade-offs de uma Transformação Ágil.
Pessoas sairão devido à mudança cultural. Outras mudarão para a nova cultura, se adequarão. Mas principalmente, tanto as que mudaram quanto as que virão do mercado em busca de trabalhar com esta nova cultura, você terá os melhores ao seu lado.
No fim das contas, uma Transformação Ágil é sobre transformar pessoas.
Porque no fim do dia, uma empresa é feita pelas pessoas que trabalham nela.
Mais sobre Transformação Ágil, suas etapas e seus atores, em breve aqui no Escritório de Projetos.
Referências bibliográficas
MONTES, Eduardo; MAUDONNET, Simone. Administração do Tempo, 1ª Ed. São Paulo; 2019.
Luiz Duarte. Scrum e Métodos Ágeis: Um Guia Prático, LuizTools, 2016
Schwaber, Ken e Sutherland, Jeff. O Guia do Scrum. O Guia Definitivo para o Scrum: As Regras do Jogo. 2020.
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